domingo, 20 de dezembro de 2015

Como o comportamento alimentar dos pais pode afetar a saúde dos filhos?


Inúmeras evidências demonstram que o comportamento alimentar de uma geração pode ser refletido nas próximas e muitos pesquisadores têm movido seus esforços nessa direção, tentando contribuir para a compreensão dos mecanismos envolvidos.

Um estudo experimental publicado em 2015 demonstra que a exposição à uma dieta rica em gordura saturada durante a gestação de ratas induz o maior acúmulo de gordura e maior produção de glicose no fígado da prole durante sua vida adulta.

Outros estudos experimentais observam efeitos de dietas maternas inadequadas também sobre o estabelecimento de doenças cardiovasculares e até mesmo sobre a redução do potencial reprodutivo de camundongos. Um estudo demonstrou que a obesidade materna leva à hipertrofia cardíaca patológica da prole durante a vida adulta por conta da retomada da expressão de genes que deveriam ser expressos apenas durante o período embrionário e fetal. Já um outro estudo afirma que uma dieta pobre em proteínas durante a gestação de ratas pode provocar o envelhecimento ovariano precoce até mesmo na terceira geração, reduzindo a capacidade reprodutiva nesses animais.

Além disso, alguns estudos vêm demonstrando que a saúde paterna no período pré-concepcional também afeta a saúde dos filhos em longo prazo. 
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo demonstra que a prática de atividade física regular pelas mães antes e durante a gestação e pelos pais no período anterior à cópula pode tornar os filhos menos propensos a desenvolver obesidade na vida adulta.

Apesar da associação entre o IMC (índice de massa corporal) do pai e dos filhos ser usualmente atribuída a fatores genéticos ou comportamentais, estudos experimentais controlados demonstram que, em modelos animais, a obesidade paterna induzida por uma dieta rica em gordura saturada provoca maior acúmulo de gordura corporal e intolerância à glicose em sua prole, sendo importante notar que os pais apresentam genótipos similares, ou seja, o fator genético não é responsável pela obesidade observada nos filhos.

A hipótese mais aceita até o momento é a de que a obesidade paterna induz alterações no padrão de expressão gênica e nas marcas epigenéticas carregadas pelos espermatozoides dos pais. Essas alterações serão carregadas após a fecundação do óvulo e durante todo o período de desenvolvimento, se refletido nos distúrbios observados na prole desses estudos experimentais.


Bibliografia (s)

Pantaleão, L. Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição. Como o comportamento alimentar dos pais pode afetar a saúde dos filhos? Acessado em: 17/12/2015

Blackmore HL, Niu Y, Fernandez-Twinn DS, Tarry-Adkins JL, Giussani DA, Ozanne SE. Maternal diet-induced obesity programs cardiovascular dysfunction in adult male mouse offspring independente of current body weight. Endocrinology. 2014;155(10):3970-80

Toledo, L. Agência FAPESP. Prática de atividade física pelos pais pode proteger filhos da obesidade. Acessado em: 17/12/2015

Fullston T, Ohlsson Teague EM, Palmer NO, DeBlasio MJ, Mitchell M, Corbett M, Print CG, Owens JA, Lane M. Paternal obesity induces metabolic and sperm disturbances in male offspring that are exacerbated by their exposure to an “obesogenic” diet. Physiol Rep. 2015;3(3)

Fullston T, Ohlsson Teague EM, Palmer NO, DeBlasio MJ, Mitchell M, Corbett M, Print CG, Owens JA, Lane M. Paternal obesity initiates metabolic disturbances in two generations of mice with incomplete penetrance to the F2 generation and alters the transcriptional profile of testis and sperm microRNA content. FASEB J. 2013;27(10):4226-43

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